Thursday 25 September 2008

Familia


três peixes e um caranguejo...

Monday 22 September 2008

Free Surf Editorial nº 4 - Versão Integral


Chegámos ao Verão. Escrevo isto com um misto de alegria e tristeza. Para um surfista o Verão representa os dias mais longos, logo mais hipóteses de surfar, seja de manhãzinha a partir das 06:00 ou mesmo ao fim do dia às vezes até às 22:00. Mas o Verão representa também menos ondas, mais crowd e sobretudo muito mais gente na praia, o que, para quem como eu, está habituado a espaço na praia pode ser um bocadinho irritante. No fundo sem ser culpa de ninguém as praias portuguesas não estão pura e simplesmente preparadas para as verdadeiras enchentes que ocorrem durante a chamada época balnear 1 de Junho a 30 de Setembro.
A nossa costa apesar de ser uma jóia e representar muito provavelmente uma forte fonte de receitas do ponto de vista do turismo interno e externo tem sido votada ao abandono nos últimos anos pelas entidades que, em teoria, a deveriam defender. Não me estou aqui a referir ao Algarve super urbanizado que todos conhecem, mas a verdadeiras pérolas da natureza como são a Praia do Amado em plena costa vicentina, ou a Praia Pequena, no concelho de Sintra ou mesmo a Praia do Guincho em pleno coração do Parque Natural Sintra Cascais ou no limite, a praia mais protegida pelos surfistas que é fica na baia dos dois irmãos, na Ericeira, também conhecida como os Coxos, entre outras.
O que assistimos é a uma regulamentação de actividades e concessões sem qualquer controle do que depois se passa na realidade.
A praia do Amado é, na minha opinião, uma das praias mais bonitas do mundo, no entanto apesar de estar no Parque Natural da Costa Vicentina, o que assistimos são a verdadeiros atentados, quer à beleza da praia quer ao ambiente. Começando pelo principio. Uma praia que num dia médio de Verão, deve levar cerca de 4.000 pessoas, tem obviamente um tráfego automóvel na ordem dos 1500 a 2000 carros entre as 06.00 da manhã e as 18:00, o que significa logo à partida um excesso de automóveis. Mas pior que o excesso de automóveis é a total falta de condições de higiene da própria praia. Casas de banho são duas com um aspecto assustador, sem contar com aquela casa abandonada, mesmo ao pé da arriba que dá acesso à praia e que serve a todos como WC, caixotes do lixo, não existe nem um na praia, apenas um grande junto à tal casa que serve de casa de banho. No entanto, o negócio, próspera inúmeras escolas de surf operam nesta praia, algumas com instalações próprias, assumo que a pagar licenças para operar em zona de protecção da natureza e ainda um bar de praia. Por fim o verdadeiro parque de auto caravanas que permanece o ano inteiro nesta praia, sem que qualquer autoridade, marítima, municipal, turística ou do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade se manifeste.
Mas a praia do Amado não é caso único. Em pleno Parque Natural Sintra Cascais, temos o Guincho uma das praias mais emblemáticas da Linha do Estoril, local de inúmeros eventos internacionais, seja de surf este ano dois grandes eventos estão marcados para esta zona seja de outras modalidade de água, recentemente um campeonato do mundo de Windsurf e muito provavelmente ainda este ano um campeonato do mundo de Kitesurf. A beleza desta praia com a Serra de Sintra a norte é verdadeiramente estonteante para quem chega pela primeira vez à praia. No entanto, também aqui temos excesso de veículos estacionados ao longo da praia e da estrada que lhe dá acesso e do lado do Muxacho, um edifício em derrocada desde do ano passado sem que nenhuma obra de conservação ou demolição se tenha verificado. Este edifício albergava não só o concessionário da praia como também as casas de banho e ainda dois pequenos bares de apoio à praia, agora fechados. Claro que se quiserem dar aulas de surf, fazer um evento, ou levar a cabo uma iniciativa na praia as licenças tem de ser pagas, e neste caso permitam-me, muito bem pagas.
Quem leu até aqui este editorial deve estar a pensar que isto mais parece um manifesto contra as entidades que regem a nossa costa. Mas não é!!! Estes exemplos e muitos outros que certamente conhecem são fruto da falta de organização estrutural que assola a costa portuguesa. Mais um exemplo: na Praia Grande, em Sintra, a Capitania de Cascais, tem a seu cargo o espelho de água (mar), o Parque Natural de Sintra Cascais, o areal e a Câmara Municipal de Sintra o estacionamento, sendo que a Câmara é responsável pela limpeza da praia, e os concessionários pelos nadadores salvadores. Estão a perceber? Há demasiadas entidades envolvidas na gestão de um espaço único. Na maior parte das praias que conheço esta é a realidade, sendo que em alguns casos o ICNB é substituído pelo Ministério do Ambiente, através das suas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento, ou ainda pelas Associações Portuárias como são a Associação do Porto de Lisboa ou a Associação do Porto de Douro e Leixões, só para referir as mais importantes.
Se por um lado é importante que exista controle e rigor na gestão da nossa costa turística (essencialmente praias) por outro é necessário encontrar uma entidade única que gerisse a nível nacional e regional, naturalmente com autonomia financeira e operacional, e que seja responsável e responsabilizada pelo que se passa nas nossas praias. Chegados aqui a pergunta óbvia é quem irá sustentar esta entidade. O que me parece lógico é que para além das licenças, Câmaras Municipais, juntas de freguesia e alguns fundos comunitários, esta entidade deveria ter como principal fonte de receita os patrocínios. Esta forma de receita, já em curso no ISN, que habilmente se equipou com uma frota de motas de água, uma frota de veículos todo o terreno e ainda com postos de vigia, devia ser o modelo a seguir.
Uma praia como o Amado, se tivesse um único apoio de praia, bonito e enquadrado na passagem circundante, com capacidade para albergar as diversas escolas de surf, um bom bar, quem sabe restaurante, casas de banho e duches, um parque de estacionamento ordenado e que respeitasse os limites da praia, caixotes de separação do lixo no areal, uma equipa permanente de nadadores salvadores com um posto de primeiros socorros capaz de dar uma primeira resposta em caso de acidente e limpeza permanente da praia, sem auto caravanas, com espaços devidamente assinalados para os “patrocinadores” da praia, não acham que seria interessante? Eu penso que qualquer marca que queira comunicar com um target activo, jovem, moderno, saudável e da Europa, de certeza que apostaria numa Praia do Amado, tal como a descrevi. E os eventos, como o WQS 1 estrela que há já longos anos acontecem nesta praia? Os eventos poderiam continuar a acontecer, pagando licenças razoáveis que revertessem 100% para fazer melhoramentos na praia onde ocorrem e não como acontece actualmente para entrarem num bolo orçamental que ninguém sabe muito bem onde vai dar. Dito isto podemos partir para outros temas e esperar que alguém com valor e capacidade interventiva leia este pequeno editorial numa pequena revista de surf e acorde para mudar para melhor o que temos de melhor em Portugal.

Este número da Free Surf vai levar-vos a um destino conhecido, a Indonésia, numa visão e experiência de um surfista como nós, sem patrocínio, sem nenhum talento especial que não aquele que nos faz acordar todos os dias muito cedo para ir procurar umas ondas para surfar e nos leva um ano a preparar e antecipar uma viagem de surf com os nossos amigos. Mas esta revista vai ter também com um dos surfistas mais emblemáticos da nossa praça e seguramente aquele que empurrou pela primeira vez o melhor surfista português de todos os tempos para uma onda. Fomos falar com o Mica Lourenço e perceber como é que um verdadeiro local da Ericeira vê as ondas e aqueles que as surfam daquela que é considerada por muitas como a Meca do Surf em Portugal. Espero que tal como eu desfrutem desta edição da Free Surf.

Boas Ondas.

Thursday 18 September 2008