Friday 1 February 2013

Os Parolos


Li recentemente um livro onde se falava de um conceito chamado Gestão da Percepção, resumidamente o autor do livro descrevia assim esta actividade: “ Inventa-se a verdade e depois enterra-se a realidade debaixo de tanto lixo, que as pessoas ficam cansadas de tanto escavar através dela e em vez disso limitam-se a aceitar o que lhes é oferecido. É a forma fácil de resolver as coisas e os humanos estão programados para seguirem sempre por esse caminho.” 

Para referência este conceito foi inventado pelos serviços de inteligência americanos e facilmente encontramos, momentos recentes na história onde este conceito foi brilhantemente utilizado para servir os propósitos de alguns.

Esta semana vivemos um momento assim com a onda “recorde” do Garret McNamara. Rapidamente apareceram os “homens do recorde” que lançaram a sua verdade em cima dos media do mundo que “comeram” sem questionar. Ontem a TVI aparecia já com entrevistas a “surfistas” sobre a importância da onda e a sua repercussão em Portugal e na Nazaré. Uma espécie de vamos explorar isto até ao tutano mas, não vamos questionar o pressuposto inicial. Os media são hoje especializados em não questionar. Como quem inventou este conceito da gestão da percepção tão bem sabe. Damos-lhe algo que vende, que eles não tenham capacidade ou tempo para questionar e por isso que agarram porque lhes garante audiências e sobretudo porque é fácil.

Parolos, é o que somos. Nós todos, os surfistas sabemos que não importa o recorde, importa sim o prazer que tiramos de descer uma onda tenha ela 10cm ou 30 metros. E isso era o que se esperava do Garret surfista, que ele, tal como, por exemplo o António Silva, viesse falar da adrenalina de descer a onda, do prazer que retirou disso. Mas não. Deixou-se arrastar pelo recorde e pela fama e glória que vem daí. Ontem os media especializados caíram-lhe em cima, duvidando da onda dos 100 pés de 2011, desvalorizando o feito. Neste artigo algumas frases do Garret são mesmo estranhas. Para mim a referência a que não ganhou dinheiro, e que não tem uma máquina de comunicação por trás é no mínimo surreal.

Na Nazaré espera-se que o feito traga “paletes” de visitantes para verem a onda. Claro que a mesma funcionará menos de 30 dias por ano. Dentro desta lógica existe uma certa soberba porque hoje fala-se da Nazaré no mundo inteiro mas diga-me lá onde é que o Mike Parsons surfou a onda maior do mundo antes do “recorde” do Garret? 


Monday 21 January 2013

Lance Armstrong - Culpado ou talvez não?


Ontem consegui finalmente ver na íntegra a entrevista do Lance Armstrong à Oprah em que ele admite o uso de doping ao longo da sua carreira pelo menos até 2005.
Confesso que fico incomodado como em tantos anos, tantas vitórias o agora vencedor em desgraça passou airosamente entre as malhas das diversas agências anti doping, mas a explicação na boca de Lance é reveladora. "O sistema de fiscalização era pobre e falível."

Gostei de ouvir a entrevista e apesar de admitir que posso não ter percebido a totalidade das mensagens que foram passadas reconheço hoje que o Lance não é o único responsável por ter sido batoteiro. Como ele próprio diz: “ não fui eu que criei o esquema, mas também não o combati!”.

No fundo há, se olharmos com atenção a pressão de todos os envolvidos nestas coisas, mais a quem atribuir culpas. Em primeiro lugar os patrocinadores que, quando a desgraça se abateu definitivamente sobre o ciclista texano, retiraram imediatamente o seu apoio “ no valor de 75 milhões de dólares” de acordo com o mesmo. 
Mas quantas bicicletas vendeu a Trek ao longo dos gloriosos sete anos de vitórias do Tour de France? 
E a Nike? Quais foram as suas vendas resultantes da exploração mediática do super Lance Armstrong? 
E qual foi a pressão que durante estes anos dourados colocaram nos atletas e nas suas equipas para serem vencedores? Qual o volume do bónus? 
Mas mais importante do que tudo isso qual foi a atenção que prestaram às acusações de doping? E o que fizeram para as rebater ou validar? Talvez tenham ganho muito e olhado convenientemente para o lado durante demasiado tempo.

Na minha opinião não podemos descarregar apenas em cima de um atleta a responsabilidade sobretudo depois de este ter sobrevivido a um cancro que lhe dava 15% de possibilidade de sobrevivência, encontrar a vitória três anos depois e resistir ao que o rodeava. Ao que o seduzia. 

Para além disto, segundo esta entrevista “ num pelotão de 200 ciclistas havia cinco que não se dopavam”. Assustador.

Penso que hoje queremos, melhor exigimos um “desporto limpo” mas sem percebermos muito bem o que isso significa. Queremos que os atletas sejam limpos, mas realizem façanhas impossíveis, quebrem recordes, vão mais rápido, mais longe, durante mais tempo. 
Mas será isso possível? Será possível exigir que alguém  percorra 144 km a pedalar  em cinco horas e tal e chegue ao fim com força para levar a cabo um sprint? Se calhar o desporto rapidamente fica “sujo” para responder às expectativas dos organizadores, patrocinadores, media, fãs entre outros.
Esta história infeliz do desporto deve, fazer-nos reflectir sobre o que queremos do futuro do desporto.

Resta-me dizer que lamento que esta história seja verdade pois o Lance Armstrong representava para muitos a capacidade que o homem tem de superar os obstáculos mais difíceis.