Thursday 6 June 2013
Friday 1 February 2013
Os Parolos
Li recentemente um livro onde se falava de um conceito
chamado Gestão da Percepção, resumidamente o autor do livro descrevia
assim esta actividade: “ Inventa-se a
verdade e depois enterra-se a realidade debaixo de tanto lixo, que as pessoas
ficam cansadas de tanto escavar através dela e em vez disso limitam-se a
aceitar o que lhes é oferecido. É a forma fácil de resolver as coisas e os
humanos estão programados para seguirem sempre por esse caminho.”
Para
referência este conceito foi inventado pelos serviços de inteligência americanos
e facilmente encontramos, momentos recentes na história onde este conceito foi
brilhantemente utilizado para servir os propósitos de alguns.
Esta semana vivemos um momento assim com a onda “recorde” do
Garret McNamara. Rapidamente apareceram os “homens do recorde” que lançaram a
sua verdade em cima dos media do mundo que “comeram” sem questionar.
Ontem a TVI aparecia já com entrevistas a “surfistas” sobre a importância da
onda e a sua repercussão em Portugal e na Nazaré. Uma espécie de vamos explorar
isto até ao tutano mas, não vamos questionar o pressuposto inicial. Os media
são hoje especializados em não questionar. Como quem inventou este conceito da
gestão da percepção tão bem sabe. Damos-lhe algo que vende, que eles não tenham
capacidade ou tempo para questionar e por isso que agarram porque lhes garante
audiências e sobretudo porque é fácil.
Parolos, é o que somos. Nós todos, os surfistas sabemos que
não importa o recorde, importa sim o prazer que tiramos de descer uma onda
tenha ela 10cm ou 30 metros. E isso era o que se esperava do Garret surfista,
que ele, tal como, por exemplo o António Silva, viesse falar da adrenalina de
descer a onda, do prazer que retirou disso. Mas não. Deixou-se arrastar pelo recorde
e pela fama e glória que vem daí. Ontem os media
especializados caíram-lhe em cima, duvidando da onda dos 100 pés de 2011,
desvalorizando o feito. Neste artigo algumas frases do Garret são mesmo
estranhas. Para mim a referência a que não ganhou dinheiro, e que não tem uma máquina de comunicação por trás é no mínimo surreal.
Na Nazaré espera-se que o feito traga “paletes” de
visitantes para verem a onda. Claro que a mesma funcionará menos de 30 dias por
ano. Dentro desta lógica existe uma certa soberba porque hoje fala-se da Nazaré
no mundo inteiro mas diga-me lá onde é que o Mike Parsons surfou a onda maior
do mundo antes do “recorde” do Garret?
Monday 21 January 2013
Lance Armstrong - Culpado ou talvez não?
Ontem consegui finalmente ver na íntegra a entrevista do Lance Armstrong à Oprah em que ele admite o uso de doping ao longo da sua carreira
pelo menos até 2005.
Confesso que fico incomodado como em tantos anos, tantas
vitórias o agora vencedor em desgraça passou airosamente entre as malhas das
diversas agências anti doping, mas a explicação na boca de Lance é reveladora. "O sistema de fiscalização era pobre e falível."
Gostei de ouvir a entrevista e apesar de admitir que posso não
ter percebido a totalidade das mensagens que foram passadas reconheço hoje que
o Lance não é o único responsável por ter sido batoteiro. Como ele próprio diz:
“ não fui eu que criei o esquema, mas também não o combati!”.
No fundo há, se olharmos com atenção a pressão de todos os
envolvidos nestas coisas, mais a quem atribuir culpas. Em primeiro lugar os patrocinadores que, quando a
desgraça se abateu definitivamente sobre o ciclista texano, retiraram
imediatamente o seu apoio “ no valor de 75 milhões de dólares” de acordo com o mesmo.
Mas quantas
bicicletas vendeu a Trek ao longo dos gloriosos sete anos de vitórias do Tour
de France?
E a Nike? Quais foram as suas vendas resultantes da exploração mediática
do super Lance Armstrong?
E qual foi a pressão que durante estes anos dourados
colocaram nos atletas e nas suas equipas para serem vencedores? Qual o volume
do bónus?
Mas mais importante do que tudo isso qual foi a atenção que prestaram
às acusações de doping? E o que fizeram para as rebater ou validar? Talvez
tenham ganho muito e olhado convenientemente para o lado durante demasiado
tempo.
Na minha opinião não podemos descarregar apenas em cima de
um atleta a responsabilidade sobretudo depois de este ter sobrevivido a um cancro que lhe dava 15%
de possibilidade de sobrevivência, encontrar a vitória três anos depois e resistir
ao que o rodeava. Ao que o seduzia.
Para além disto, segundo esta entrevista “ num pelotão de
200 ciclistas havia cinco que não se dopavam”. Assustador.
Penso que hoje queremos, melhor exigimos um “desporto limpo”
mas sem percebermos muito bem o que isso significa. Queremos que os atletas
sejam limpos, mas realizem façanhas impossíveis, quebrem recordes, vão mais
rápido, mais longe, durante mais tempo.
Mas será isso possível? Será possível exigir
que alguém percorra 144 km a pedalar em cinco horas e tal e chegue ao fim com
força para levar a cabo um sprint? Se calhar o desporto rapidamente fica “sujo”
para responder às expectativas dos organizadores, patrocinadores, media, fãs
entre outros.
Esta história infeliz do desporto deve, fazer-nos reflectir
sobre o que queremos do futuro do desporto.
Resta-me dizer que lamento que esta história seja verdade
pois o Lance Armstrong representava para muitos a capacidade que o homem tem de
superar os obstáculos mais difíceis.
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