Li recentemente um livro onde se falava de um conceito
chamado Gestão da Percepção, resumidamente o autor do livro descrevia
assim esta actividade: “ Inventa-se a
verdade e depois enterra-se a realidade debaixo de tanto lixo, que as pessoas
ficam cansadas de tanto escavar através dela e em vez disso limitam-se a
aceitar o que lhes é oferecido. É a forma fácil de resolver as coisas e os
humanos estão programados para seguirem sempre por esse caminho.”
Para
referência este conceito foi inventado pelos serviços de inteligência americanos
e facilmente encontramos, momentos recentes na história onde este conceito foi
brilhantemente utilizado para servir os propósitos de alguns.
Esta semana vivemos um momento assim com a onda “recorde” do
Garret McNamara. Rapidamente apareceram os “homens do recorde” que lançaram a
sua verdade em cima dos media do mundo que “comeram” sem questionar.
Ontem a TVI aparecia já com entrevistas a “surfistas” sobre a importância da
onda e a sua repercussão em Portugal e na Nazaré. Uma espécie de vamos explorar
isto até ao tutano mas, não vamos questionar o pressuposto inicial. Os media
são hoje especializados em não questionar. Como quem inventou este conceito da
gestão da percepção tão bem sabe. Damos-lhe algo que vende, que eles não tenham
capacidade ou tempo para questionar e por isso que agarram porque lhes garante
audiências e sobretudo porque é fácil.
Parolos, é o que somos. Nós todos, os surfistas sabemos que
não importa o recorde, importa sim o prazer que tiramos de descer uma onda
tenha ela 10cm ou 30 metros. E isso era o que se esperava do Garret surfista,
que ele, tal como, por exemplo o António Silva, viesse falar da adrenalina de
descer a onda, do prazer que retirou disso. Mas não. Deixou-se arrastar pelo recorde
e pela fama e glória que vem daí. Ontem os media
especializados caíram-lhe em cima, duvidando da onda dos 100 pés de 2011,
desvalorizando o feito. Neste artigo algumas frases do Garret são mesmo
estranhas. Para mim a referência a que não ganhou dinheiro, e que não tem uma máquina de comunicação por trás é no mínimo surreal.
Na Nazaré espera-se que o feito traga “paletes” de
visitantes para verem a onda. Claro que a mesma funcionará menos de 30 dias por
ano. Dentro desta lógica existe uma certa soberba porque hoje fala-se da Nazaré
no mundo inteiro mas diga-me lá onde é que o Mike Parsons surfou a onda maior
do mundo antes do “recorde” do Garret?