Tuesday 17 July 2012

O Caminho


Calhou na última viagem que fiz ir a um local mágico. A expectativa em relação ao mesmo era muita fruto das explicações, dos incentivos e da descrição do local. Alguns amigos já la tinham ido, todas as pessoas que conheciam falaram-me dele como sendo mágico, incrível e fora deste mundo. Assim é. Mas não é deste local que quero falar.
Quero falar do caminho para lá chegar e do caminho para sair de lá. Deste, estranhamente ninguém me falou, ninguém referiu.
Assim no dia em que cheguei começaram por me dizer que era 50 minutos a andar a pé, depois 40 minutos e por fim fiz o percurso de 4 quilometros em 60 minutos. Não porque ande devagar ou estivesse cansado, porque estava, pelo menos no regresso, depois de surfar quatro horas, mas sim porque cada subida escondia atrás de si uma visão incrível do lugar, uma onda a rebentar, um conjunto de pássaros a chilrear, como já não ouvimos hoje, a visão do fundo do mar cheio de pedras coloridas a 200 metros de altitude.
 De facto, numa altura em que chegamos a todo o lado de carro com relativa facilidade, foi uma completa surpresa este caminho longo e sinuoso ao longo de uma costa altamente escarpada e cheia de vegetação, que só por si já é mágico. Deste caminho ia vislumbrando a cada curva para o mar, o local mágico, ia imaginando até à curva seguinte as ondas, as pessoas, a igreja, ao longe adivinhava uma pequena aldeia no meio do nada, feita por homens e mulheres para quem o isolamento era uma maneira de estar, uma forma de vida, ou talvez não. Talvez para essas pessoas o conceito de isolamento não existisse. Talvez para elas o local mágico fosse suficiente para se sentirem mais perto da plenitude da sua existência. Talvez quando abriram este caminho pela primeira vez percebessem que o caminho era uma parte do processo para chegarem a um local mágico e por isso mesmo o fizeram sinuoso. Ou talvez a natureza ditasse isso mesmo. Uma encosta escarpada cheia de vegetação que entra pelo mar em harmonia.
Quando ao fim de um dia inteiro regressei pelo mesmo caminho sinuoso, verdejante e fresco fui-me continuando a surpreender e cheguei à conclusão que talvez uma parte da magia do local onde fui estivesse justamente no caminho nesse percurso de 4 km e 60 minutos cheio de vida e paz. Às vezes é bom percorrer um caminho para um local mágico, com calma, apreciando o que ele tem para nos oferecer, sem pressas olhando para o que nos rodeia. Quando chegamos ao fim percebemos que fizemos uma jornada mágica e que não podia ser de outra maneira.