Friday 7 March 2014

Conflito de Interesses

Quero começar por dizer que nutro o mais profundo respeito e admiração pelo David Raimundo com quem em determinada altura lutei lado a lado para trazer o surf ao que ele é hoje. O seu percurso como treinador de surf de elite tem sido irrepreensível sempre em parceira com o seu amigo Nuno Telmo.

Quero também dizer que a direcção da Federação Portuguesa de Surf me merece o maior respeito e conhecendo algumas das pessoas posso afirmar sem qualquer dúvida que o seu objectivo é o melhor possível para o Surf Nacional.


Dito isto devo dizer que a trapalhada que a Federação criou ao convidar o David Raimundo para seleccionador nacional sem exigir dedicação exclusiva é um tiro no pé, num momento que se esperava lucidez.  Ao convidar o David para seleccionador sem exigir exclusividade a FPS fez o impensável. Em qualquer momento sujeita-se a si e ao seleccionador nacional uma situação de contestação, como a que aconteceu recentemente a propósito da convocatória para o Mundial Júnior, no limite pode ainda sujeitar-se a que um agente de um atleta leve um assunto deste tipo a instâncias superiores colocando em causa todo o trabalho que tem sido desenvolvido em prol do surf.

Este conflito de interesses tem de ser resolvido a bem do surf nacional tão breve quanto possível. 

Em meu entender há duas soluções possíveis. A primeira passa por dispensar o David e encontrar outra pessoa que tenha capacidade para ser seleccionador nacional e não tenha impedimentos legais e éticos para assumir o lugar. Esta solução não me agrada, pois acredito que o David é a melhor pessoa para assumir o cargo. A segunda solução passa por encontrar uma solução que seja financeiramente viável para que o David abdique da sua cota no seu projecto profissional dos últimos anos e assuma a tempo inteiro o cargo de seleccionador nacional. Para isto é preciso que os intervenientes percebam duas coisas. A primeira é que um treinador ganha mais dinheiro enquanto treinador de um projecto privado do que ganha enquanto seleccionador nacional, e por isso quem quer ser seleccionador tem de assumir a sua escolha. E a segunda é que se não existem condições financeiras e económicas para ter um seleccionador nacional de surf então a Federação Portuguesa de Surf deve assumir isso e agir em conformidade de uma forma clara e frontal. 
De resto foi o que o país fez nos últimos anos para ultrapassar a crise.

Por fim dizer que o surf e as suas instituições devem ser exemplares para não corrermos o risco de termos no futuro mais um momento de retrocesso como tivemos no passado.

Boas Ondas.

Sunday 2 March 2014

Hoje corri a minha segunda corrida de 2014.

Hoje corri a minha segunda corrida de 2014 e, tal como a primeira, não correu bem. Uma lesão no tendão rotuliano do joelho esquerdo impede-me de ganhar velocidade em descidas e em plano. Enfim, tudo será melhor daqui para a frente.

Quero falar da organização de corridas, porque estou ligado aos eventos desportivos há mais de quinze anos (SURF), e em 2013 organizei uma corrida. 

Desde há muitos anos sempre que  organizo um evento, é importante que todos os seus clientes se sintam satisfeitos e de preferência que a experiência supere a expectativa. 

No surf existe desde logo um constrangimento muito grande que se chama MAR. Podemos fazer tudo bem e mesmo assim o evento não correr como desejávamos.

Quando em 2013 propus na escola dos meus filhos organizar uma corrida, propus que se fizesse algo com uma dimensão reduzida mas onde todos saíssem satisfeitos. Assim foi.

No entanto rapidamente vieram os críticos, dizendo que 15 euros para uma corrida de 10 km era caro. Na altura correndo o risco de me expor demasiado expliquei que, para mim, o preço da corrida não se devia medir por km mas sim pelo que a corrida oferecia aos seus participantes e sobretudo pela qualidade da organização da prova em todos os seus detalhes. Mesmo assim, houve quem continuasse a insistir no euro por km, como se o custo de organizar uma corrida se medisse ao km. Nada mais errado.  

Hoje nos 20 km de Cascais uma organização sobre a qual tinha boas referências fez um conjunto de erros seguidos. Uns mais graves do que outros. Começando pelo horário da entrega dos dorsais que atrasaram o arranque da corrida, seguindo para a  medição da prova, passando pelos abastecimentos mal planeados, pelo saco de plástico com uma maçã e duas águas no fim e acabando pela sensação de que se alguém se sentir mal a meio do caminho tem de esperar meia hora pelo socorro ou ter a sorte de passar um médico que ajude, se puder claro. Gostei dos miúdos de bicla com t-shirts da CUF. Muito bom.

Agora a sério, quando organizamos uma corrida conseguimos controlar até 90% das suas condicionantes e nesse sentido é possível fazer um trabalho melhor e mais sério.

O crescimento do mundo da corrida poderia  e deveria ser acompanhado com organizações que , apostassem na qualidade e na satisfação de todos, em vez da lógica do 1euro=1km ou menos em alguns casos.

Por isso, se necessário aumentem os preços, mas ofereçam qualidade porque em última análise é isto que todos queremos. 

Teria pago 25 euros pela corrida? Talvez. Teríamos sido menos? De certeza. Saíamos todos mais satisfeitos? Acredito que sim.


Boas corridas. 

Wednesday 22 January 2014

O Embaixador

Já me tinham dito mas não quis acreditar que o embaixador de Portugal na mais importante feira de Turismo da Península Ibérica ia ser o americano da Nazaré. Não tenho nada contra o americano ou contra a estratégia da Nazaré. No entanto o que me ocorre é o que pensaríamos se, para promover o nosso futebol, utilizássemos o Messi? Não tinha muito sentido.


Ora é mesmo isto que acontece neste caso. Em vez de utilizarmos um surfista português e, temos pelo menos dois, que seriam excelentes embaixadores, vamos buscar um outsider cuja única ligação ao país é o facto de ter surfado uma onda grande e ter aparecido em muitas noticias. Mas vamos por partes.
Em primeiro quero falar de notoriedade, pois o argumento poderia ser que o Garret tem muito mais notoriedade do que qualquer surfista português. Fazendo uma pesquisa Google, que vale como argumento, verificamos que o surfista americano tem 1.870.000 resultados, Tiago Pires 1.180.000 resultados e Federico Morais 2.800.000 resultados. O Federico tem só mais um milhão. E por acaso é português. O Tiago, que também é português teve a época de 2013 lesionado e mesmo assim quase tantos resultados com o Garret que surfou em Janeiro de 2013 a “maior” onda. E por acaso não é português. Então não se compreende que o convite para ser embaixador de Portugal e das suas ondas não tenha recaído sobre o Tiago Pires ou o Frederico Morais. 

Quero também referir que o Tiago é um dos surfistas mais emblemáticos da Europa e do mundo, e é reconhecido por isso. Segundo um estudo da Eurosima. 
O Garret? É reconhecido por surfar a Nazaré. Mas tenho uma pergunta? Antes do Garret surfar a onda da Nazaré, qual era o anterior record e onde foi estabelecido e por quem? Provavelmente poucas ou nenhumas pessoas se lembraram, como aliás não se vão recordar da Nazaré e do Garret depois da próxima onda grande noutra parte qualquer do planeta.

Isto leva-me à segunda questão. Com uma costa rica em ondas para todos os gostos, grandes, pequenas, fáceis, difíceis, inofensivas, perigosas, por que raio se decide ancorar a promoção do destino Surf num embaixador que é apenas conhecido por surfar a onda da Nazaré, onda essa, que poucos terão capacidade de surfar e que ao contrário das outras ondas funciona tão pouco, e ao que parece cada vez com mais restrições? Sim a Nazaré é relevante, tal como a Ericeira ( reserva mundial de surf), a Figueira ( onda mais longa da europa), a linha do Estoril ( Guincho e Carcavelos), Peniche ( palco de inúmeros eventos internacionais), Sagres ( destino mais do que reconhecido internacionalmente), os Açores ( uma jóia desconhecida a três horas dos USA), a Madeira ( vocês sabem!), Viana do Castelo , São Torpes, a Costa da Caparica e tantos outros spots incríveis espalhados pelo nosso país, prontos a serem descobertos. E que têm sido destino de férias de surf de tantos europeus. Os tais mercados consolidados onde queremos reforçar a nossa oferta.

Temo que, com esta estratégia, consigamos dar cabo do segmento do turismo de surf em Portugal.
O tempo o dirá.