Já me tinham dito mas não quis acreditar que o embaixador de
Portugal na mais importante feira de Turismo da Península Ibérica ia ser o americano da Nazaré. Não tenho nada contra o americano ou contra a estratégia
da Nazaré. No entanto o que me ocorre é o que pensaríamos se, para promover o
nosso futebol, utilizássemos o Messi? Não tinha muito sentido.
Ora é mesmo isto que acontece neste caso. Em vez de
utilizarmos um surfista português e, temos pelo menos dois, que seriam
excelentes embaixadores, vamos buscar um
outsider cuja única ligação ao país é o facto de ter surfado uma onda grande
e ter aparecido em muitas noticias. Mas vamos por partes.
Em primeiro quero falar de notoriedade, pois o argumento
poderia ser que o Garret tem muito mais notoriedade do que qualquer surfista
português. Fazendo uma pesquisa Google, que vale como argumento, verificamos
que o surfista americano tem 1.870.000 resultados, Tiago Pires 1.180.000
resultados e Federico Morais 2.800.000 resultados. O Federico tem só mais um
milhão. E por acaso é português. O Tiago, que também é português teve a época
de 2013 lesionado e mesmo assim quase tantos resultados com o Garret que surfou
em Janeiro de 2013 a “maior” onda. E por acaso não é português. Então não se
compreende que o convite para ser embaixador de Portugal e das suas ondas não
tenha recaído sobre o Tiago Pires ou o Frederico Morais.
Quero também referir
que o Tiago é um dos surfistas mais emblemáticos da Europa e do mundo, e é reconhecido
por isso. Segundo um estudo da Eurosima.
O Garret? É reconhecido por surfar a Nazaré.
Mas tenho uma pergunta? Antes do Garret surfar a onda da Nazaré, qual era o
anterior record e onde foi estabelecido e por quem? Provavelmente poucas ou
nenhumas pessoas se lembraram, como aliás não se vão recordar da Nazaré e do
Garret depois da próxima onda grande noutra parte qualquer do planeta.
Isto leva-me à segunda questão. Com uma costa rica em ondas
para todos os gostos, grandes, pequenas, fáceis, difíceis, inofensivas,
perigosas, por que raio se decide ancorar a promoção do destino Surf num embaixador
que é apenas conhecido por surfar a onda da Nazaré, onda essa, que poucos terão
capacidade de surfar e que ao contrário das outras ondas funciona tão pouco, e
ao que parece cada vez com mais restrições? Sim a Nazaré é relevante, tal como
a Ericeira ( reserva mundial de surf), a Figueira ( onda mais longa da europa),
a linha do Estoril ( Guincho e Carcavelos), Peniche ( palco de inúmeros eventos
internacionais), Sagres ( destino mais do que reconhecido internacionalmente),
os Açores ( uma jóia desconhecida a três horas dos USA), a Madeira ( vocês
sabem!), Viana do Castelo , São Torpes, a Costa da Caparica e tantos outros spots incríveis espalhados pelo nosso
país, prontos a serem descobertos. E que têm sido destino de férias de surf de
tantos europeus. Os tais mercados consolidados onde queremos reforçar a nossa oferta.
Temo que, com esta estratégia, consigamos dar cabo do
segmento do turismo de surf em Portugal.
O tempo o dirá.