Ontem consegui finalmente ver na íntegra a entrevista do Lance Armstrong à Oprah em que ele admite o uso de doping ao longo da sua carreira
pelo menos até 2005.
Confesso que fico incomodado como em tantos anos, tantas
vitórias o agora vencedor em desgraça passou airosamente entre as malhas das
diversas agências anti doping, mas a explicação na boca de Lance é reveladora. "O sistema de fiscalização era pobre e falível."
Gostei de ouvir a entrevista e apesar de admitir que posso não
ter percebido a totalidade das mensagens que foram passadas reconheço hoje que
o Lance não é o único responsável por ter sido batoteiro. Como ele próprio diz:
“ não fui eu que criei o esquema, mas também não o combati!”.
No fundo há, se olharmos com atenção a pressão de todos os
envolvidos nestas coisas, mais a quem atribuir culpas. Em primeiro lugar os patrocinadores que, quando a
desgraça se abateu definitivamente sobre o ciclista texano, retiraram
imediatamente o seu apoio “ no valor de 75 milhões de dólares” de acordo com o mesmo.
Mas quantas
bicicletas vendeu a Trek ao longo dos gloriosos sete anos de vitórias do Tour
de France?
E a Nike? Quais foram as suas vendas resultantes da exploração mediática
do super Lance Armstrong?
E qual foi a pressão que durante estes anos dourados
colocaram nos atletas e nas suas equipas para serem vencedores? Qual o volume
do bónus?
Mas mais importante do que tudo isso qual foi a atenção que prestaram
às acusações de doping? E o que fizeram para as rebater ou validar? Talvez
tenham ganho muito e olhado convenientemente para o lado durante demasiado
tempo.
Na minha opinião não podemos descarregar apenas em cima de
um atleta a responsabilidade sobretudo depois de este ter sobrevivido a um cancro que lhe dava 15%
de possibilidade de sobrevivência, encontrar a vitória três anos depois e resistir
ao que o rodeava. Ao que o seduzia.
Para além disto, segundo esta entrevista “ num pelotão de
200 ciclistas havia cinco que não se dopavam”. Assustador.
Penso que hoje queremos, melhor exigimos um “desporto limpo”
mas sem percebermos muito bem o que isso significa. Queremos que os atletas
sejam limpos, mas realizem façanhas impossíveis, quebrem recordes, vão mais
rápido, mais longe, durante mais tempo.
Mas será isso possível? Será possível exigir
que alguém percorra 144 km a pedalar em cinco horas e tal e chegue ao fim com
força para levar a cabo um sprint? Se calhar o desporto rapidamente fica “sujo”
para responder às expectativas dos organizadores, patrocinadores, media, fãs
entre outros.
Esta história infeliz do desporto deve, fazer-nos reflectir
sobre o que queremos do futuro do desporto.
Resta-me dizer que lamento que esta história seja verdade
pois o Lance Armstrong representava para muitos a capacidade que o homem tem de
superar os obstáculos mais difíceis.