Quando vamos para a praia em qualquer altura do ano
deparamo-nos sistematicamente com pequenos paus de plástico que muitos
consideram ser de chupa-chupas. Na realidade são paus de cotonete. Que as
pessoas deitam nas sanitas e que passam pelas ETAR até chegarem ao mar. Que os
devolve para terra. Este fim-de-semana apanhamos muitos. Mas podíamos ter
apanhado muitos mais.
Os dias 23 a 25 de Março marcaram este ano uma vez mais as
Iniciativas Oceânicas. Esta iniciativa decorre em simultâneo no mundo inteiro,
e tem como principal objectivo alertar as pessoas para a poluição nas praias e
através da ajuda de todos remover uma parte deste lixo.
Como voluntário da Surfrider Foundation em Lisboa, organizei
três limpezas de praia durante o fim-de-semana. No sábado de manhã tivemos no
Guincho, no sábado à tarde em Carcavelos e no domingo a seguir ao almoço na
Costa da Caparica.
Surpreendente foi o facto de no Guincho com chuva e com vento
terei aparecido mais pessoas. À semelhança da última limpeza de praia que
tínhamos levado a cabo tivemos mais estrangeiros do que portugueses.
Quando chegamos a Carcavelos no sábado a praia estava cheia
de surfistas, boas ondas e muitas pessoas no areal. Ninguém se aproximou de nós
para ajudar. Excepto duas pessoas, uma rapariga que se aproximou pegou num saco
e foi apanhar lixo e um jovem surfista, não devia ter mais de 12 anos e estava
numa festa de anos de um amigo. Veio a correr ainda de fato vestido, foi
ajudar, devolveu o saco cheio e seguiu para a sua festa de anos. Tirando estas
duas excepções e nada mais. Os surfistas decidiram ignorar a acção de limpeza
da sua praia.
No domingo a situação foi semelhante. Apesar das praias da
costa da Caparica serem durante o Inverno uma espécie de lixeira a céu aberto,
e de as pessoas apesar de isso irem para a praia brincar com as crianças e as
escolas de surf utilizarem as praias numa base diária, tal como os surfistas,
ninguém se mexeu para ajudar. Mesmo ninguém!
Fiquei a reflectir sobre a razão disto acontecer.
Coloquei-me na posição de estar numa esplanada com os meus filhos na praia onde
habitualmente vou e assistir a uma acção de limpeza de praia. Será que me
juntaria? O que me levaria a não me juntar? A conclusão que cheguei é que
provavelmente as pessoas consideravam que já pagavam impostos, e que não tinham
sido elas a deixar o lixo na praia e por isso não tinham nenhuma obrigação de
ajudar. É verdade. Ou talvez não se consideramos que o bem-estar de todos não
pode só depender de uns mas deve obrigatoriamente depender de todos.