Tuesday 31 July 2007

Os Formiguinhas


Em 2003 marcámos o regresso de um Campeonato Nacional de Surf estruturado, profissional e que dignificasse uma forma de estar na vida de que todos gostamos. Para isso, a nossa primeira prioridade foi encontrar uma equipa que correspondesse às nossas expectativas e necessidades. A primeira pessoa dessa lista era o chefe de operações, ou, como se chamava a um grupo de produção de 98, o chefe dos formiguinhas. Este grupo é invisivel durante a maior parte do evento, mas sem eles nada aconteceria: as mudanças de praia, a montagem do palanque, a montagem das lonas dos patrocinadores, a limpeza do espaço, a montagem do som, das bandeiras que delimitam a àrea de prova e muitas mais coisas que esta equipa faz e nós não vemos.
Foi este grupo, a quem este ano todos devemos muito que, nas mais adversas condições montou uma estrutura para os juizes na Praia Grande - no meio da areia no fim-de-semana mais quente dos últimos 150 anos - foram eles que, na noite de Sábado para Domingo pegaram na estrutura do Nacional de Surf e a mudaram de Carcavelos para o Guincho com tudo montado “como manda o figurino”.
À frente desta equipa esteve um homem a quem lancei o desafio de ser o chefe de operações do Nacional de Surf 2003. O nome dele como alguns devem lembrar-se era Cajó.
O Cajó nunca tinha feito nada de surf, nem tão pouco percebia da modalidade. Era um mega operacional e aceitou o meu desafio. Se me ouviram gritar durante o campeonato, a maior parte das vezes foi com o Cajó. Ele arcou as coisas menos bem feitas da equipa, as disputas e algumas vezes os desentendimentos. Nunca desanimou. Teve sempre um sorriso quando era preciso e sempre vontade de fazer mais e melhor.
Ao longo do ano, de etapa em etapa, as coisas foram melhorando e a equipa de produção foi sendo cada vez melhor e mais eficaz. As rotinas entraram no dia-a-dia dos homens invisíveis. Passámos - como todos se lembram - por situações bem complicadas: quem não se lembra da tempestade em Peniche no último dia de prova, ou da difícil colocação das colunas na Foz do Arelho. Todas estas situações foram resolvidas pelo Cajó. Sempre disponivel e atento, ele é parte integrante do surf nacional pelo seu trabalho.
Querem saber a melhor? O Cajó nem sequer era surfista, nem bodyboarder. Era alpinista, e acalentava o sonho de, com a sua companheira, montar uma empresa de aventura. A perseguir este sonho, foi a Espanha, à Serra de Gredos tirar mais um curso para completar a já sua extensa formação de alpinista e homem de montanha. A Serra, tal como acontece às vezes com o mar, não perdoou ao Cajó a ousadia de querer saber mais e perseguir o seu sonho. Apanhado desprevenido por uma avalanche, o meu amigo Cajó não sobreviveu e morreu soterrado, no dia 22 de Fevereiro de 2004. Desejo-lhe que encontre paz e boas montanhas para escalar. Até sempre amigo, e obrigado por tudo o que fizeste pelo surf português.
23 Fev.2004


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